quarta-feira, 8 de julho de 2009

Confissão

Em seus desolhares encontro a tormenta que preciso. Pra me deixar levar e renascer na calma perdida. Procuro-a como quem canta. Algumas canções disfarçam o grave da voz.

Eu te dei tudo, meu bem. Até indiferença, que só é confortável a ti... soltando palavras ao vento e remoendo uma mágoa que só ficou em mim. Na verdade tudo o que foi feito era pra você. Era pra te ver mal, mas também pra te ver sofrer menos, era pra te ver gozar de um prazer que eu nem sei, era pra te ver chorar e querer lavar minhas mãos em ti. Me pintei de tantas cores... só pra ver se eu reconhecia algum colorido seu.Quem me dera te ferir com toda fraqueza que há em mim, com toda sobriedade desmanchada por minhas pálpebras borradas de creon. Eu pinto meus olhos e desmancho meu batom em uma boca qualquer... e acaba ficando tudo em mim... só em mim...

... só queria te abraçar e te beijar a nuca...

Eu me peço perdão por te amar de repente...
e a cada tempo, passa o medo de dizer ‘nunca mais’.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Diálogo

Diz: "Creio que movido pela esperança de que a luz e o calor pudessem amenizar a dor e secar as feridas, aproximei-me lentamente do fogo. Estendi as mãos e, quando olhei em volta, havia mais doze pares de mãos estendidas ao lado das minhas. Os doze pares de mãos estavam cheios de feridas úmidas e violáceas. Todos viram ao mesmo tempo, mas ninguém gritou. Eu gostaria de ter conseguido olhá-los no fundo dos olhos, de ter visto neles qualquer coisa como compaixão, paciência, tolerância, ou mesmo amizade, quem sabe amor. Não tenho certeza de ter conseguido(...)
Não nos falaremos, não nos olharemos dentro dos olhos. Apenas um de nós treze fará o primeiro movimento, se jogará ao fogo, aquecerá os outros por alguns momentos, depois se tornará cinza, e depois mais um, e outro mais. Como um ritual. Uma ciranda, daquelas em que uma criança entra dentro dessa roda, diz um verso bem bonito, diz adeus e vai embora. Apenas já não somos crianças e desaprendemos a cantar." (Caio Fernando Abreu, Holocausto)
Diz: Solitários com medo da solidão dos outros.

Um porquê

Saúdo aqueles cujos corpos se resfriam sobre a cama, a única, embalados pelo calor febril de paixões imaginárias.
Saúdo os olhares escondidos e devoradores, mas sempre temerosos em ser descoberta a obsessão doentia por trás de seus instantes particulares.
Saúdo o medo e todos os outros que me ajudam a ir a lugar nenhum.
Saúdo o seu medo! Quero devorá-lo, amá-lo exaustivamente...
Saúdo os vícios, colaboradores fiéis da saudade frágil, da saúde feliz desses meus dias.

Personas

A menina de cabelos escorridos, olhos doces e tímidos... Era bonita sim, uma beleza pequenina, disfarçada de preto e verde... a cor de sua sempre dilatada pupila. Tinha olhos enxarcados. Talvez seu olhar fosse o culpado por sua beleza ser assim tão pequena.
Ouvia sempre uma música bem melódica no interior do seu quarto fechado... bem melódico... e se derretia sobre sua cama na esperança de que um dia, alguém escutasse junto a ela. Assim esperava, banhada de preto e verde, tentando uma agressividade difícil de acreditar em um corpo de olhos tão pequeninos, de uma beleza tão enxarcada.
A vida dela não tinha muito mais do que isso... esperar melancolicamente por alguma salvação, pela sua redenção de anos melados em uma espera que ela julgava justa.

...

Quando se deseja tanto o amor, há sempre o angustiante esforço em senti-lo por alguém.
Tô com uma angústia enlatada na minha garganta.
Hoje em dia se vende angústias delivery, a kilo, a la carte, a granel, em lata...
ALUGO QUARTO PARA MOÇAS
Por alguns trocados você talvez arrume alguns pedaços de desejo.
A gente aprende a conviver com isso.
A gente sempre aprende... a não dar tanta importância
para aquilo que não foi, não aconteceu.